Ao redor tudo começa a girar, e você, enfim, sente que algo está errado. A atração repentina surge de maneira brusca e você, então, percebe que já não está mais dormindo. Tenta acordar, mas não tem pernas; tenta gritar, mas não há voz. Ao redor, tudo gira, o desespero aflora e tudo o que você pode fazer é esperar, em pânico, tudo aquilo acabar. De olhos fechados, você ainda vê todos aqueles rostos, a respiração abrasante, e aquela presença em algum ponto do quarto.
A Catalepsia, Catalepsia Projetiva ou até mesmo Paralisia do Sono, se tornou um drama na vida daqueles que, assim como eu, vão dormir receosos do que pode acontecer durante os primeiros minutos de sono. Os membros rígidos, o pânico e as alucinações dão a quem sofre com drama, um medo incomum da hora de dormir.
As causas e explicações são muitas, porém, de maneira generalizada, podemos entender a origem do fenômeno.
Causa Científica
Catalepsia é um belo nome, de fato, mas não foi a ciência que empregou. Para ela, quase não há referências ou pesquisas que se aprofundem no assunto, e o fenômeno atende mais corretamente pelo nome de Paralisia Noturna. Esse, entretanto, já é mais adequado às características do fenômeno.
O sono é a fonte. Pode-se dividi-lo em duas etapas – Rem e not-Rem. O último se dá no processo de maior duração, ou seja, o sono mais calmo que geralmente mantemos durante toda a noite. O outro, Sono Rem, designa o processo onde o sono se dá de forma agitada, também conhecido como crazy eyes ou rapid eyes movement (movimento rápido dos olhos), onde durante algum distúrbio ou pesadelo, movimentamos os olhos enquanto dormimos.
Tudo tem início com uma repentina ruptura do sono. O cérebro humano, máquina incrível, tem uma função particular durante os primeiros minutos: Atonia. A atonia tem a capacidade de paralisar o corpo de uma forma geral, para evitar a movimentação brusca gerada durante o Sono Rem. É aí que tudo começa.
Pela explicação lógica, durante os primeiros instantes, o cérebro inicia o processo de atonia. A Paralisia Noturna se dá quando acordamos durante esse processo, ou quando ele ainda não se finalizou (hora de acordar). O processo de retração da atonia, além de lento, não acompanha o despertar repentino. Por isso, o cérebro pode ou não perceber quando acordamos, nos deixando sob o efeito da paralisia por alguns minutos, e em alguns, como eu, por horas.
O que vem a seguir é o que geralmente é relatado por quem passa pela experiência. Despertando, ficará completamente consciente. Não sentirá braços nem pernas, sentirá, porém, um peso incomum na barriga, fixando, ou aparentando fixar o corpo para baixo. Os sintomas (ou efeitos, visto que a catalepsia não é doença) são desde a paralisia comum e passageira, até a duradoura, trazendo consigo alucinações e sensação de terror eminente.
Há também a percepção de uma presença, pelo qual você tem absoluta certeza que está ali, em algum lugar do quarto. O pânico é absoluto.
Causa Religiosa
A medicina nos dá uma explicação do âmbito neurológico para o assunto. Alguns até afirmam que a Paralisia Noturna se origina de um processo de esquizofrenia, para explicar todas as alucinações que a pessoa tem quando passa pela experiência. Entretanto, essa explicação não recebe muito crédito, visto que grande parte dos que sofrem desse transtorno são perfeitamente saudáveis, físico e psicologicamente.
A visão religiosa, em especial a da doutrina espirita, mantém também uma explicação para catalepsia.
A palavra vem do grego Katalepsys – surpreendido. Catalepsia Projetiva é também conhecida como Projeção Astral, ou viagem extracorpórea.
O tema deixou de ser mito ou superstição, comprovado pela ciência e admitindo até mesmo uma explicação lógica.
Entendendo-se a diferença entre alma e espírito, pelo qual você pode conferir por aqui, o conceito de viagem astral consegue se tornar algo acessível para ciência moderna.
Você, provavelmente, já sonhou que ergueu os braços e pulou do telhado de casa, flutuou pelo asfaltou ou se sentiu leve o bastante para saltar de longas distâncias. O sonho de voar é uma experiência fantástica, obviamente, sendo também uma das mais concretas durante o sono, o que nos faz ter o desejo de sonhar por mais tempo, ou, quando acordado, de retornar ao sonho.
A sensação de voar, por acharmos tão real durante o sono, está ligada diretamente à projeção astral. Você pode se lembrar da terrível sensação de queda, que associada ao sonho, pode ser realmente assustadora. Sonhando, por exemplo, que se lançou de um prédio, a sensação de queda se aflora pelo corpo até o momento da queda, onde finalmente acorda.
Pela projeção astral, a explicação está no fato de quando ela é interrompida. Aos crentes da experiência, é dito que todas as noites durante o sono, o espírito se desprende do corpo, de onde flutua alguma distância acima.
Por esse processo, a explicação da Catalepsia se dá quando despertamos repentinamente no início da projeção.
A dificuldade em acordar é outra característica básica. Às vezes o puro pânico impede a pessoa de despertar. Para quem sofre do problema, alguns exercícios podem ajudar a controlar a paralisia, se manter calmo e esperar o retorno dos movimentos. Não tente abrir os olhos ou fazer força demasiada para gritar, pois geralmente não dão resultados. São raros os casos de pessoas que passaram pela catalepsia com os olhos abertos. Portanto, quando ocorrer, tente exercícios práticos e fácies, que ajudarão a retomar o movimento das mãos e dos pés, gradativamente, até despertar.
- Movimentar os dedos dos pés ou da mãos, que permanecem ativos durante a catalepsia.
- Respiração profunda e intensa, além de manter o controle cardíaco, reduz a paralisia e retoma o movimento dos membros.
Se nenhum dos procedimentos surtir efeito, não se desespere. Rezar pai-nosso, ave-maria, mãe-de-sá, santo-expedito e afins, à princípio, pode ampliar a sua fé, mas dificilmente vai reduzir a paralisia. Entretanto, manter a calma e reduzir o stress é essencial e geralmente funciona.
Referências na Cultura Estrangeira
No oriente, a Paralisia Noturna possui muitos nomes. As referências a ela são geralmente sobrenaturais. Na china, a experiência é conhecida como guǐ yā chuáng, que pode ser traduzido como “corpo pressionado por um fantasma”. No Japão, fala-se de uma experiência chamada dagtsogou, ou “demônio pressionador”.
A catalepsia também é representada no folclore brasileiro. A lenda da Pisadeira descreve uma mulher alta, de mãos e pés compridos; longas unhas, cabelos brancos, olhos grandes. A Pisadeira, segundo a lenda, viaja pelos telhados, de onde costuma entrar na casa daqueles que, após o jantar, costumam dormir de barriga para cima. É uma referência à cultura nordestina, quando se tem pesadelos por dormir de costas. A Pisadeira literalmente pisa na barriga de sua vítima, pressionando-a e mantendo-a ali, incapaz de se mover, cônscia de tudo ao redor. Particularmente, a lenda é mais engraçada que assustadora, porém, isso não desmerece uma característica básica da catalepsia.
O que acontece durante o processo, conhecido como ilusões hipnagógicas, faz referência a tudo o que é visto e ouvido durante a paralisia. O medo é indescritível e as vozes surgem, os rostos desconhecidos e aquela presença… em algum ponto ali perto. Tudo isso tem ligação com os relatos de gente que diz ter passado por uma abdução alienígena ou possessão demoníaca, visto que a paralisação e a capacidade de discernir o espaço ao redor se assemelha muito com esse outro fenômeno.
O que se sabe, é que para aqueles que sofrem constantemente com esse problema, o temor de uma noite de sono incomum é inevitável. Ao adormecer, as lembranças massacram o sossego quando tudo começa a girar, e se tem a certeza de alguma coisa está por ali, à espreita.
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